Desafios da transição energética e riscos de expansão da China foram temas de painéis do Congresso Aço Brasil 2025

01/09/2025 | Assessoria de Imprensa Aço Brasil

São Paulo - O último dia do 35º Congresso do Aço 2025, na quarta-feira (27) iniciou com o questionamento sobre como reduzir as emissões de CO2 nos processos industriais e, ao mesmo tempo, manter a competitividade no mercado. O painel seguinte debateu os riscos do avanço da China no mercado global.

Transição Energética - Como Conciliar Descarbonização e Competitividade

Moderador do painel, Titus Schaar, Conselheiro do Instituto Aço Brasil e CEO da Ternium Brasil, destacou a posição diferenciada do país no cenário global mas alertou para o alto custo da transição e o impacto na competitividade da indústria. Disse que, possivelmente, a grande maioria dos consumidores não estará disposta a pagar um preço mais alto por um produto feito com baixa emissão de CO2 . “Na Europa, o mercado de carbono reduziu emissões, mas ao custo do fechamento de fábricas e da perda de 35 mil empregos”, ressaltou.

Keynote speaker do painel, o deputado federal Rodrigo Rollemberg afirmou que o Brasil precisa transformar vantagens comparativas em ganhos reais. “O aço brasileiro já nasce mais limpo graças ao uso de carvão vegetal renovável e à nossa matriz energética. É preciso criar demanda com certificações confiáveis, acordos internacionais e políticas de financiamento verde. Sem crédito acessível, a transição não acontecerá”. Rollemberg citou a aprovação da Política Nacional do Hidrogênio, da regulação do mercado de carbono e do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões. “Esse é o momento de unirmos indústria, academia e setor público para dar escala às novas rotas produtivas”.

Na visão de Roberto Muniz, Diretor de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o custo da transição é um dos maiores entraves. “Estamos falando de mais de 1,3 trilhão de dólares em investimentos. E os recursos prometidos pelos países desenvolvidos não chegaram. Como financiar esse movimento em um país onde os juros são de 15%?”, questionou. “A transição precisa ser realista”.

Paulo Pedrosa, Presidente Executivo da Associação Brasileira de Consumidores de Energia Elétrica (Abrace), criticou o que chamou de “política anti-industrial energética”. “O brasileiro rico que compra um carro elétrico ou um painel solar importado está sendo subsidiado pela indústria nacional, que paga a conta. Não geramos emprego, não usamos aço, vidro ou plástico brasileiros e ainda criamos distorções que exigem energia de térmicas caras”.

O economista Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia, relatou alguns projetos de descarbonização de usinas de aço na Europa que se mostraram inviáveis economicamente. “Nem na Europa, onde há regulação e subsídios, esse mercado se sustenta. O caso da siderúrgica Salzgitter é emblemático: um investimento de 2,3 bilhões de euros recebeu 1 bilhão de euros em subsídios, mas conseguiu reduzir apenas 30% das emissões de CO2  e aumentou significativamente o endividamento da empresa”.

China e os riscos para a indústria global

O Painel sobre “Expansão da China no mercado global – riscos” foi moderado por Frederico Ayres Lima, Conselheiro do Instituto Aço Brasil e CEO da Aperam South America, que relatou um princípio que, em sua visão, orienta a política industrial chinesa. “Na China, há uma máxima: não existe nação forte sem indústria forte, e não existe indústria forte sem o aço”.

O keynote speaker William Hess, CO-CEO da PRC Macro Consultoria, apresentou um panorama da chamada revolução energética chinesa – na qual o país aproveitou a poupança acumulada para investir em energia solar, renováveis e equipamentos industriais. “A energia barata tornou-se um dos pilares da competitividade chinesa, e isso se reflete diretamente nos preços das exportações de produtos intensivos em energia, incluindo o aço”, disse. Hess alertou ainda para uma nova onda de investimentos chineses em outros países, de até 12 trilhões de dólares até 2040 e seus impactos nos mercados globais.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, ressaltou que a competitividade chinesa é decorrente de subsídios maciços e políticas de Estado. “É preciso desmistificar a ideia de que energia barata é uma vantagem natural. Trata-se de uma estratégia estatal que não pode ser replicada em economias de mercado”, afirmou. Roriz destacou a necessidade de o Brasil avançar em segurança jurídica e regras claras para atrair investimentos.

Haroldo Ferreira, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), relatou o impacto da concorrência chinesa no setor. “Em 2023, a China produziu 12,3 bilhões de pares de calçados, dos quais 9 bilhões foram exportados. Essa escala derruba os preços e coloca em risco empregos no Brasil”. Para ele, as medidas de antidumping que defendem o setor se mostram insuficientes, e defendeu novas medidas.

Para José Velloso Dias Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), o avanço da China é reflexo de uma política planejada e sustentada pelo Estado. “Em 1990, o Brasil exportava a mesma quantidade de máquinas que a China. Hoje, a China detém 20% do mercado mundial, enquanto o Brasil ficou com 1%. O faturamento da nossa indústria caiu à metade em três décadas”

O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Fernando Pimentel, disse que a China “foi feita para produzir e para vender”. Ele destacou que o Brasil é a maior cadeia produtiva integrada de fibras do Ocidente, mas que enfrenta desvantagens competitivas em capital, energia e legislação. Disse considerar que a indústria brasileira só conseguirá reverter esta situação com mecanismos mais efetivos de incentivos e defesa da produção nacional
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